Ultrapassamos os limites planetários. E agora?

Ultrapassamos os limites planetários. E agora?

Ultrapassamos os limites planetários. E agora?

Sumário

A Terra é um ser vivo em constante regeneração. Mas nossas ações estão sobrecarregando o planeta. A boa notícia é que podemos reverter esses impactos

O ano de 2023 ainda nem terminou e já tivemos os três meses mais quentes já registrados na Terra. Na esteira do calor escaldante, que não poupou nem o inverno do Hemisfério Sul, o mundo sofreu com tempestades incomuns, furacões, tufões e ciclones poderosos, inundações, deslizamentos de terra e incêndios florestais destruidores. Além das perdas materiais, prejuízos de bilhões e bilhões de dólares, milhares de pessoas perderam suas vidas por causa desses eventos.

Infelizmente essas tragédias não se restringem a 2023, e provavelmente vão se tornar cada vez mais comuns e fatais. Todas as evidências científicas apontam esses eventos extremos como efeito das mudanças climáticas pelas quais o planeta está passando. E essas mudanças climáticas são resultado direto das ações da Humanidade. A Terra está respondendo ao que estamos fazendo. E essa resposta é um pedido de socorro.

Sim, ultrapassamos alguns dos limites planetários. Com a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento, a destruição de ecossistemas e biomas, a poluição de rios, mares e oceanos, na maior parte das vezes para produzir os alimentos de que precisamos, fizemos a Terra chegar ao limite. Nosso planeta é um ser vivo que é capaz de se regenerar. Mas precisa de tempo para isso.

‘O planeta é um ser vivo, está em constante regeneração. À medida que a Terra se estressa, ela precisa de um tempo para se recuperar. E o que está acontecendo é que estamos usando a Terra de forma intensa, ultrapassando alguns limites e não dando tempo para ela se regenerar. Nossa forma de vida atual é absolutamente insustentável’, explica o CEO da Konexio, Luiz Gustavo Ortega.

A origem dos limites planetários

A boa notícia, lembra o CEO da Konexio, é que percebemos a situação a tempo de mudar essa rota de destruição. Ainda é possível salvar o planeta – e a nossa própria pele, na verdade. Mas, para isso, é preciso entender quais são os limites planetários. E o que deve ser feito para respeitar esses limites, preservando o meio ambiente e a biodiversidade, mas, ao mesmo tempo, garantindo os recursos de que precisamos para viver com bem estar e dignidade.

Em 2009, sob liderança do sueco Johan Rockström, um grupo de cientistas integrantes do Stockholm Resilience Centre (SRC), da Suécia, identificou nove ‘limites planetários’ (ou ‘planetary boundaries’, em inglês). Como o nome já diz, trata-se de limites ambientais seguros, dentro dos quais a Humanidade pode se desenvolver sem que as mudanças ambientais sejam irreversíveis ou estresse o planeta.

Os limites planetários incluem várias fronteiras críticas, como as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, a acidificação dos oceanos, a perda de biodiversidade, entre outros fatores. Transcender esses limites pode levar a mudanças climáticas extremas, degradação ambiental e perturbações no equilíbrio dos ecossistemas. Tudo isso com sérias consequências para a Humanidade.

Em suma, o conceito dos limites planetários destaca a importância da sustentabilidade e da gestão responsável dos recursos naturais e dos impactos de nossas atividades para preservar nosso planeta. E a nossa própria vida.

Quais são os limites planetários?

Os nove limites planetários identificados pelos cientistas do SRC são:

1)      Perda da biodiversidade e extinções

2)      Mudanças climáticas

3)      Ciclos biogeoquímicos (ciclo do nitrogênio e ciclo do fósforo)

4)      Abusos no uso da terra

5)      Acidificação dos oceanos

6)      Mudanças no uso da água doce

7)      Degradação da camada de ozônio estratosférica

8)      Carregamento de aerossóis para a atmosfera

9)      Novas entidades

Luiz Gustavo Ortega explica que a ciência já tem conhecimento suficiente sobre a maior parte desses limites. Isso significa que já existem soluções para evitar a ultrapassagem dessas fronteiras pelas ações humanas, ou para revertemos os limites que já foram ultrapassados.

Dois deles ainda estão sendo mais bem estudados. Um é o carregamento de aerossóis para a atmosfera. Embora já se saiba que as partículas geradas pela queima dos combustíveis fósseis e das florestas são extremamente perigosas para a saúde. A poluição atmosférica causa 7 milhões de mortes prematuras todos os anos, mostra o relatório ‘The State of Global Air Quality Funding 2023, do Clean Air Fund (CAF) e da Climate Policy Initiative.

Outro limite que ainda precisa de mais pesquisas são as novas entidades. Trata-se de elementos como os microplásticos, que ainda não sabemos precisar ao certo o nível de seu impacto nos ecossistemas e, portanto, em nossas vidas.

Quais limites planetários já foram ultrapassados?

Um estudo, publicado em meados de setembro na revista científica Science Advances, indica que a Humanidade já ultrapassou seis dos nove limites planetários.

Para os pesquisadores liderados por Katherine Richardson, professora de oceanografia e líder do Centro de Ciências da Sustentabilidade da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, as fronteiras ultrapassadas pelas atividades humanas incluem as mudanças climáticas; a integridade da biosfera/biodiversidade; mudanças no uso da terra; mudanças na água doce; fluxos biogeoquímicos; e novas entidades.A partir dos resultados obtidos na análise sobre os limites planetários, Katherine Richardson compara o estado de saúde da Terra ao de um paciente com doença arterial, relata o Um só planeta. “Podemos pensar na Terra como um corpo humano e nos limites planetários como a pressão sanguínea. Acima de 120/80 não indica um ataque cardíaco, mas aumenta o risco dele ocorrer. Por isso, trabalhamos para reduzir a pressão arterial”, explicou a professora.

Interconexão dos Limites Planetários: A Urgência da Mudança Climática

Não é apropriado destacar um limite como o mais crítico, pois todos estão interconectados, capazes de desencadear efeitos em cascata. No entanto, a mudança climática frequentemente emerge como um dos desafios mais prementes, devido aos seus impactos generalizados em sistemas naturais, sociedade e a economia global.

Globalmente, o Acordo de Paris de 2015 traçou metas ousadas para conter o aumento da temperatura média do planeta, com a ambição de limitá-lo “muito abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais” e, ainda, visando atingir 1,5°C. No entanto, a realidade é que as emissões de gases de efeito estufa continuam a crescer em muitas partes do mundo. Alcançar essas metas tornou-se uma empreitada de extrema complexidade, questionando nossa capacidade de controlar o aquecimento global.

Paralelamente, testemunhamos taxas de extinção de espécies que excedem significativamente as ocorrências naturais. A ação humana, por meio do desmatamento, da degradação dos habitats, das mudanças climáticas e das transformações no uso da terra, destaca-se como um dos principais impulsionadores dessa alarmante perda de biodiversidade.

É possível reverter a situação dos limites planetários?

O exemplo de Katherine Richardson, ao comparar o planeta a um paciente com doença arterial, é a prova de que sim, é possível reverter o cenário de destruição do meio ambiente. Como compara o ‘Um só planeta’, ‘o caso do paciente é grave, é gravíssimo, o que não implica, necessariamente, um desastre imediato’.

Um exemplo é citado por Luiz Gustavo Ortega: a reversão da degradação da camada de ozônio na atmosfera. ‘Isso mostra que tudo é reversível. Com a descoberta pela ciência de quanto o elemento CFC era danoso para a camada de ozônio, banimos esse elemento químico, e essa camada se recuperou. O buraco que existia sobre a Antártica praticamente acabou. Ou seja, o planeta se regenera se pararmos de estressá-lo. Ele tem habilidade e condições para se regenerar naturalmente’, explica o CEO da Konexio.

E completa: ‘Podemos minimizar os impactos se agirmos agora. O planeta tem alta capacidade de regeneração. O que precisamos é encontrar formas de nós diminuirmos nosso impacto sobre ele, e dar tempo para ele se regenerar’, conclui.

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